16 de ago. de 2009

And by the way, which one is Pink?

E cá estamos nós com unhas mal pintadas de vinho, ouvindo um Floyd, pensando se estou com saco para arrumar os cachos do meu cabelo. Nesse meio tempo já deitei na cama da minha mãe, ao lado da minha preguiçosa gata e devaneei sobre meu mais novo amor (ah se esses devaneios tornarem-se realidade...). Descobri que ele tem uma tatuagem no ombro, então talvez não reclame das minhas se um dia nos tornarmos alguma coisa. Entre uma coisa e outra entorno xícaras e mais xícaras de café pra acordar. Realidade, cá estou eu!

Mas falando de coisa boa que não é a Tekpix, em todos esses anos de floydiana nunca pensei que fosse dizer que Roger Waters é Deus. Mas é. Um deles, pra deixar claro: antes ele era só um semi-deus. Quando eu era adolescente não queria saber se ele é quem tinha escrito praticamente 90% das composições, ficava irritada quando vinham com esse argumento pra dizer que ele era o cara dentro da banda. Só que ele é mesmo. Todos os discos da fase clássica do Pink Floyd são praticamente Roger Waters de cabo a rabo, e duas ou três composições em conjunto - vulgo, letras! Melodias eu sei que só funcionavam bem quando compostas em conjunto, mas agora estou falando das letras. E sem o perfeccionismo cerrado, as músicas não seriam tão belas e emocionantes. Porque ele era mesmo um cara chato quando se tratava de entrar em estúdio pra gravar algo ou então fazer um ensaio. Se tudo não estivesse perfeitamente encaixado, guitarra entrando na parte que ele queria, o Mason na bateria acompanhando o baixo do jeito certo, ele fazia todo mundo recomeçar até ficar tão bom quanto ele pudesse deixar. Eu não entendia essa ditadura, mas agora agradeço por ele ter sido tão exigente. Porque para o Floyd se tornar inesquecível como o Waters tanto quis só sendo extremamente perfeito, sem absolutamente erro nenhum.

Infelizmente, a banda só era extremamente foda quando os quatro caras funcionavam como uma 'unidade', todo mundo na mesma sintonia, só que não tem como negar que sem as letras do Waters talvez o Floyd fosse mais uma banda de rock progressivo entre tantas outras. Por exemplo, o que seria de Dark Side of the Moon sem a letra de Eclipse? Ou então de Time? Shine on you Crazy Diamond escrita e cantada originalmente por outra pessoa não teria o mesmo peso. E Cymbaline? Essa é pra mim uma das maiores composições do Waters, na transição de psicodélico pra progressivo. Mas eu sei que sem a voz do Gilmour, muitas das músicas do Waters não seriam o que são. Porque embora fossem muito perturbadoras, só o Gilmour conseguia imprimir calma nelas. Sem a voz dele, a beleza mórbida das letras do Waters não seria expressada do jeito certo. Assim como admito que o mesmo vale para a guitarra do Gilmour. Sem o solo de Time, nada faria sentido nessa vida, não é? Mas

Enquanto um membro do Floyd, o Waters escrevia com a alma dele. Não, sério mesmo, sem essas de ser brega. Ele buscava a parte mais obscura lá da alma dele pra compor suas canções. Mesmo as mais bonitas, ou são sarcásticas ou são depressivas ou são mórbidas. Tá, mas e o Sydão? Bom, eu continuo amando meu querido Syd Barrett de cabelos rebeldes, roupas coloridas e toda aquela infantilidade das composições do The Piper at the Gates of Dawn, mas é que depois de passar por tanto perrengue de uns cinco anos pra cá, acho que me tornei dura demais, então passei a entender o outro Roger melhor, e hoje são as letras dele que fazem sentido, não as do inocente e incompreendido diamante doido, que  continuo amando demais da conta.

E o Rick? Continua sendo o meu preferido de todos, meu Jesus Christ Superstar, com aqueles cabelos longos e barba e bigode da época do Pompeii. Sem os teclados dele, o Floyd não teria a aura sobrenatural tão importante pra mim. Através dos teclados do Wright, quantas vezes não saí de mim? Aqueles teclados exerceram uma influência psicodélica em meus dias alucinados de café, com apenas uma vitrola e a janela do meu quarto escancarada pra ver a lua alta no céu com trocentas estrelas ao redor. Quando ele morreu foi bem triste, não conseguia acreditar... e, bom, ainda não caiu a ficha. Até porque pra mim ele foi eternizado como aquele cara da época do Pompeii. Pra mim ele nunca envelheceu nem morreu, ele é aquilo ainda, e sempre será. E, pra dizer a verdade são todos, ainda, daquele jeito pra mim. Os caras que vejo hoje não são nem o Roger nem o David, são apenas dois velhos revivendo, nos seus respectivos shows solo, o que um dia foi o bom Floyd.

E já que abri meu coração sobre o que penso e sinto sobre um das bandas mais importantes da minha vida, uma coisa que me deixa realmente muito triste nisso tudo é que nunca verei a formação clássica junta. Rick morreu, não faz mais sentido. Lembro da emoção que senti em 2005 ao vê-los juntos no Live8, mas não cheguei a chorar. Estava tão extasiada, mesmo só assistindo pela TV, que esqueci de chorar. Na verdade chorei só quando meu irmão mais novo ameaçou desligar o vídeo-cassete só porque eu não tinha gravado o show da Joss Stone (que hoje ele nem lembra que existe). Pena que o entrosamento foi ensaiado, mas foi tão legal, tão importante pra mim. Já que nunca pude ir num show com todos vivos, pelo menos o Live8 quebrou o galho. E, bom, nem nunca irei. O máximo que vai acontecer é o Waters vir pro Brasil de novo e eu me debulhar em lágrimas no show dele.

Sendo assim, mesmo que só pelo show do Waters, se é que um dia ele volta de novo mesmo, meu Pink Floyd é para sempre e sempre e sempre e sempre e sempre...

Por uma fã louca e alucinada,
Carol.