12 de set. de 2004

Carlota


Era apenas uma menina e tinha medo do amor. Conheceu muitos homens: homens altos, homens magros, homens louros, homens sensíveis, homens covardes, homens artistas, homens inteligentes. Mas Carlota não era feliz no amor e sempre acabava feita em mil pedacinhos que demoravam a se juntar. 


Um dia, decidiu ser brava e forte pra ver se encontrava alguém que lhe gostasse muito. Amou homens com dinheiro, homens bêbados, homens vis, homens loucos, homens que traíam, homens nojentos, homens grosseiros, homens. E Carlota ainda não tinha tido sucesso nos assuntos do coração. E chorava. Chorava como uma menininha por todos os dias de sua vida. Os dias em que fora tratada como objeto, os dias em que fora tratada como diversão, os dias em que fora tratada como cadela no cio, os dias em que não fora tratada e decidiu. Amor era mito e tinha sido inventado pelo homem. 


As flores haviam se aberto, o sol queimava, o vento agitava, as pessoas circulavam mas não! Não! Não, não, por todos os nãos que sua boca conseguia proferir; o mundo era bonito mas a moça já havia decidido. Não... Ela sabia que esse era seu Destino pois Ele já havia escrito a sua vida por linhas tortas e rabiscadas de tinta negra. 



Ah, mas que insensata, que burra. Carlota pegou a faca e rasgou seus punhos. E enquanto o sangue jorrava, a menina gargalhava e a cada gargalhada sua vida esvaecia. E o sangue jorrava cada vez mais e a consciência ia desaparecendo; o chão do banheiro ficou encharcado com o líquido rubro, o fluído vital das entranhas daquela estúpida garota. De repente, PAFT! O baque... Carlota caiu. Antes que desse o suspiro final, o último sopro de sua vida infeliz, proferiu a palavra AMOR e uma lágrima salgada molhou sua face pálida. Carlota morreu e ninguém lembra dela. Não importa se mais alguém morreu por algo que dói e só faz sofrer. O Destino já havia escrito. Carlota era apenas uma menina.


Por Ana em mais um de seus dias de fossa absoluta.

11 de set. de 2004

Momentos menstruados - parte 3

Endométrio, interminável rio rubro, todo mês, até que a menopausa o seque, espero ansiosamente que não atrase seu curso.

10 de set. de 2004

Momentos menstruados partes 1 e 2, e um algo mais

1
Meu mundo torna-se mais vermelho a cada troca de absorvente.

2
Às vezes, dá vontade de arrancar o útero pela boca.

Cólicas
A cólica é o maior teste de auto-controle que existe nesse mundo, afinal, ter a sensação de que você está abortando seu útero não é das coisas mais agradáveis desse mundo.

9 de set. de 2004

Momento "Baixou o Mário de Andrade em mim, me acudam!"

Nego Véio chegou pá Saci Pererê e disse:
- Se tu me arranjá três galinha preta, Nego Véio te dá fumo pá bota no cachimboró.
Saci, qui num é bobo, foi pá floresta e encontrô três galinha preta ciscando, qui tinha fugido da fazenda do Sinhozim.
- Nego véio, taí tuas galinha. Agora me dá fumo pá botá no cachimboró qui eu sô moleque arteiro e tenho que falá com curumim, em nome de Tupã!
Nego Véio deu o fumo e pegou as três galinha preta. Voltou pro terreiro e cortou as cabeça das galinha pra mó de Nego Véio podê macumbará.
Oh, mizifiá! Oh, mizifiê! E Nego Véio mizifiô até que Ogum baixô e prometeu pra Nego Véio que Sinhozim ia libertá todos os escravo filho d'África pra mó de nóis fazê o axé em nome de Iemanjá.
Oh, macumbará vem! Oh, macumbará vai! E Nego Véio macumbarou até ficá de dia.

Retirado de minha mente perturbada.