20 de jan. de 2013

Fringe - A série mais legal do mundo terminou

Da forma mais esquisita possível, em um fim de semana de 2009, procurando o que passar como aula de vídeo pra uma das minhas turmas no CCBEU, resolvi assistir Fringe. Tinha visto os comerciais na Warner, porque acompanhava as reprises dos episódios que eu já tinha visto de Supernatural. Nos comerciais, vi que em Fringe tinha o John Noble, e basicamente por isso, já valia a pena assistir. O problema era que sempre esquecia de anotar os dias e horários. 

Naquele sábado, depois de muito pensar no que eu podia passar na aula da semana seguinte, fiquei pesquisando as sinopses dos episódios de Fringe, pra ver se tinha algum que tivesse bastante correria (e bombas e tiros, porque, adolescentes, né?). Após uma lida nas sinopses dos episódios, resolvi procurar por um que parecia ser bem interessante, já que a cabeça de uma das moças envolvidas no caso em questão, explodia. Pensei ser o tipo de coisa que os alunos gostariam.

Quando terminei de assistir o episódio da menina que explodia a cabeça de mó galera junto com a dela, tinha ficado tão empolgada com os protagonistas que acabei vendo a primeira temporada inteira em menos de uma semana. E fiquei feliz de saber que logo mais teria a segunda, ou seja, o negócio era bom já que tinha sido renovado. Constatei depois de uns três dias durante aquela semana, numa maratona maluca de aulas seguida de mais aulas e então do momento de assistir alguns episódios antes de preparar mais aulas, que  pra mim era bem mais interessante do que Arquivo X, que eu acompanhava quando era adolescente. 

Na época levei em consideração que: tinha casos inexplicáveis pela ciência tradicional; tinha agentes do FBI; os personagens tinham histórias com profundidade; tinha uma trama legal que prendia até o fim, e um bônus: um cientista maluco. E o cientista maluco era justamente o John Noble. De cara, o Walter Bishop virou o meu personagem preferido. Ele era excêntrico, completamente louco, gostava de cogumelos, música e sempre tinha as melhores tiradas. No meio de um caso grotesco com sangue e miolos pra todo lado, analisando o corpo da vítima, lá estava o Walter comendo alguma coisa e fazendo alguma piada com humor negro sobre o que poderia ter acontecido. Era sensacional. E o legal é que ele não era um personagem só com tiradas engraçadas, ele também tinha um lado bem triste, e toda a história dele foi construída às custas de preços caros a pagar. Ele era uma pessoa amarga, destruída por conta da ambição quando era jovem, e com bem pouca sanidade. Tinha também um tal William Bell, que depois de muito mistério descobre-se que é o Leonard Nimoy. Foi uma boa season finale, afinal, nada melhor que o outro cientista maluco ser o Spock, né?

Da segunda temporada pra frente me vi imersa no mundo da Olivia Dunham, do Peter e Walter Bishop, do Coronel Broyles, da Nina Sharp, da Astrid Farnsworth, do William Bell e do observador  September. ('Observadores' era como a divisão Fringe os chamava porque eles sempre estavam presentes em momentos importantes da história humana observando o que a gente fazia, mas ninguém tinha a mínima ideia do que eles podiam ser, talvez alienígenas.) 

Mal eu sabia que por três anos e meio eles seriam minha família fictícia. Todas as semanas em que havia episódios lá estava eu fissurada, querendo que a próxima pausa dada pela emissora não fosse tão grande quanto a anterior.

De repente, lá pelo final da segunda temporada, começaram a cogitar o cancelamento da série. O fato de ter de concorrer com outras séries do horário nobre, a maioria feita tendo como público alvo os adolescentes, foi deixando Fringe pra trás. E era injusto, porque a série tinha bastante audiência, porém para os chefes executivos da emissora não era o suficiente. Mesmo depois de a Olivia finalmente ter dado uma chance pra que algo acontecesse entre ela e o Peter. A Olivia virou minha irmã mais velha.

O alívio veio com a terceira temporada, renovada por inteiro, com vinte e poucos episódios. Com ela, veio um universo paralelo com os personagens do lado de lá vivendo vidas praticamente iguais aos daqui; nomes novos; personagens que deixavam o ódio corroer a cada nova estória; alguns casos bizarros, também. E o Walter cada vez mais louco, cada vez mais no fundo do poço, cada vez mais engraçado. E era demais como o Walter daqui era completamente diferente do Walter do lado de lá. O John Noble é muito genial. O Walternate era sério, austero, decidido e um tanto quanto cruel. Ver o John Noble ser capaz de retratar dois Walters completamente diferentes entre si me fazia gostar ainda mais dele. Nesse ponto me peguei pensando se eu era fã mais do Bishop ou do Noble, e até hoje eu não sei. Mas que o Bishop virou meu pai, virou. Eu chorava com ele, ria com ele, me sentia uma merda quando ele se sentia também. Dava vontade de me transportar pro mundo de Fringe e abraçar ele e dizer "Walter, vai ficar tudo bem, vamos tomar um LSD, comer uns candy sticks e ouvir uns discos."

Então veio de novo o perrengue da boataria de que não teria uma quarta temporada. Um monte de sites que postam as renovações das séries especulou que talvez realmente dessa vez não tivesse. Mas era só pra encher o saco, mesmo. O problema é que quando você já está tão viciado em algo, que simplesmente não se vê vivendo sem, acaba acreditando em basicamente tudo o que lê. Isso inclui os boatos de cancelamento. Aí você fica ansioso, depois se desespera, depois pede pra seja lá o que for que você creia que não haja nada de ruim, e então vê que era só exagero.

A quarta temporada foi, com certeza, a melhor de todas. Teve alteração nas linhas de tempo, teve personagem desaparecendo, teve mais observadores que o normal, teve o departamento Fringe daqui colaborando com o Fringe de lá, teve o personagem que tinha desparecido da linha de tempo voltando da forma mais louca possível, e teve mais September. Na verdade sempre teve o September. Em todas as outras temporadas ele aparece, mas na quarta o papel dele foi bem mais significativo. Eu já não sabia mais se meu coração pertencia à Olivia, ao Walter ou ao September. Resolvi que seria dos três, porque eles eram sensacionais. Já que a Olive era minha irmã e o Walter o meu pai, fiz do September meu melhor amigo. 

Ah é, a quarta temporada! Foi a melhor de todas e teve a season finale mais maravilhosa do mundo. Deixa até eu traçar um paralelo, que vai ser meio estranho, pra entender como eu me sinto quando vejo a season finale da quarta temporada de Fringe. Sabe quando você foi assistir O Senhor dos Anéis no cinema, e em todos os filmes as cenas de batalha eram tão fodas, que você sabia que pelo resto da vida nunca mais conseguiria ver filmes que tivessem cenas grandiosas de batalhas que chegassem aos pés de O Senhor dos Anéis, e após anos vendo filmes com batalhas, você viu mesmo que nunca mais vai ter cenas de batalha que te marquem assim? Foi assim que me senti vendo a season finale da quarta temporada de Fringe. Nunca mais vou me sentir tão maravilhada por outra season finale de qualquer outra série. Sei isso do fundo do coração. Foi o episódio que eu mais chorei e gritei com a TV e depois senti uma onda de desgosto que foi substituída por uma alegria imensa, e foi quando meu amor por todos os outros os personagens, além da Olivia, do Walter e do September, se consolidou de vez. Foi o melhor roteiro de toda a série. Mas, óbvio, que isso é o que eu penso e não exatamente o que os outros vão pensar também.

Com a notícia de que a quinta seria a última e havia sido renovada com apenas treze episódios, eu pensei que fosse ficar do jeito que a gente a fica, né: primeiro a ansiedade, depois o desespero e etc. Mas fiquei legal e achei que era até bom que fosse mesmo o fim. Quando a série chega no ápice, tem mais que terminar mesmo, senão fica uma baita duma enrolação sem fim (vide Supernatural que podia ter acabado na quinta mas tá sendo arrastada até agora e só se salva por conta do anjo Castiel). 

Na última temporada de Fringe teve uma nova personagem que causou uma revolução, teve os observadores finalmente deixando claro o que queriam, teve uma anomalia que se ligava aos observadores e teve mais September. O desfecho foi tão triste quanto foi imensamente aliviante. Triste porque perdi minha família (além de alguns bons personagens), e aliviante, porque, no final o que os fãs queriam aconteceu. O medo era que o criador da série, J. J. Abrams, acabasse deixando tudo confuso, como no final de Lost, que foi outra série criada por ele e que até hoje ninguém tem muita certeza do que aconteceu de verdade. Mas em Fringe, o final foi digno.

Espero que o box venha recheado de extras e cenas deletadas. Só isso pra tirar o vazio que a série deixou no peito depois desses três anos e meio comigo.

Olivia, Walter e Peter. Um trio para ser eternamente adorado.