18 de jul. de 2015

O que aprendi nos meus 21 anos convivendo com a depressão

Comecei a sofrer de depressão um pouco cedo, quando tinha 10 anos. Na época certos pensamentos eram frequentes e eu simplesmente não conseguia entender porque eles vinham na minha cabeça. Um deles era a dúvida que eu tinha se um dia iria matar meus pais. Achava que uma hora ia me dar a louca e ia acabar fazendo o que não queria. Isso acabou comigo, passei meses querendo dar um fim nesses pensamentos, até o fatídico dia em que pensei pela primeira vez em me matar. Minha mãe na época costurava pra fora e olhando pra uma das tesouras de costura dela, pensei "Por que não?" Na minha cabeça isso ia fazer parar meu sofrimento. Mas não consegui nem encostar a tesoura em mim. Quer dizer, eu apontei-a na minha direção e com um movimento rápido da mão fiz ela chegar bem perto do meu peito, mas não tive coragem.

Continuei sofrendo, e os pensamentos de morte foram substituídos pelos sexuais. Um ano depois entrei na puberdade. Minha mãe nunca foi de conversar sobre essas coisas aqui em casa, então eu voltei a me martirizar, achando que eu era louca por pensar em sexo, por imaginar determinadas situações, por ficar excitada. Chegou num ponto em que tudo que eu pensava eu botava no papel e escondia no guarda-roupa da minha mãe, pra ver se ela encontrava, lia e me ajudava. Nessas, a tristeza me assolava, e devo ter pensado em me suicidar de novo. Um dia cansei disso, rasguei todos os papeizinhos escondidos e falei pra eu mesma que ia melhorar.

Então veio a adolescência. A depressão fazia parte da minha vida, mascarada de aborrecimento. Eu vivia sem vontade de fazer as coisas que esperavam de mim e passava os dias chateada sem motivo. Conforme fui crescendo, iam me dizendo que era só fase, que uma hora ia passar. Não passou.

Virei adulta e a coisa toda piorou pro meu lado. Em 2004, a depressão tomou conta da minha vida na forma de crises de pânico. Um dia eu simplesmente empaquei na entrada do prédio onde fazia um cursinho pré-vestibular e não consegui sair do lugar. Minha mente fechou, meu coração disparou e na hora só deu tempo de correr até o carro do meu pai. Foi um momento horrível. Mais horrível ainda foi passar um tempo sem entender direito o que tinha acontecido comigo. No final, acabei indo fazer terapia pela primeira vez. Na época eu tinha um preconceito ferrenho, achava que quem ia em psicólogos era maluco. O problema foi que o diagnóstico foi feito tendo como base só minhas crises de pânico, e a psicóloga não era adepta da psiquiatria, então, falando o português claro, me fudi por mais três anos.

Em 2007, parei de trabalhar por conta da depressão pela primeira vez. Foi um choque pra mim, não esperava que fosse tão grave. Eu continuava tendo crises, e o diagnóstico continuava sendo síndrome de pânico, com a depressão como segundo fator. Nessas, comecei a tomar remédio pela primeira vez. Não sei até hoje se foi uma boa decisão. Me disseram que eu ia tomar por uns dois anos, e cá estou eu há 8 sem previsão de quando vou parar.

De 2007 pra cá, passei por altos e baixos. Acabei parando de trabalhar de novo, fui diagnosticada erroneamente como bipolar, passei por vários terapeutas... Aprendi que o que eu tenho é real. A mente enegrece e o corpo acompanha. Não tenho "frescurite" como algumas pessoas do meu convívio familiar costumavam dizer. Minha dor existe mesmo, não fica só dentro da minha cabeça, me afeta de uma forma absurdamente ruim. Aprendi também que sou mais forte do que eu penso. Caí diversas vezes e com esforço consegui me levantar. E cês acham que tive apoio de familiares e amigos? Não. Na hora que a coisa ficava feia de verdade eu me via sozinha de todos os lados. Os familiares não ligavam mais, os amigos desapareciam... Aprendi a ser independente disso, que a força que preciso pra continuar reside em mim, e não nos outros. Não guardo rancor de ninguém, sei como é difícil encarar a depressão quando ela se mostra, e ninguém está preparado pra lidar com isso, mesmo que diga que sabe como é. Se você nunca passou por isso, não tem como saber.

Hoje tenho minhas metas, aprendi a lidar com a tristeza de uma forma mais madura. Antes eu ficava mal e me deixava cair. Hoje fico mal e vejo que continuar deitada não ajuda em nada. Antes eu via apenas os problemas, hoje procuro ver as soluções pra eles. Tracei objetivos, e busco colocar minha força toda nos caminhos que vão me fazer realizá-los. Acho que essa lição é a mais válida de todas que a depressão me ensinou. O lance é manter o foco no que é bom e esquecer que existem coisas prejudiciais, mudar o campo de visão, pensar positivamente e ir atrás do que te faz bem. Com a depressão isso é mil vezes mais difícil, mas vai por mim, é possível.