30 de jan. de 2007

Saudade do que ainda nem foi...

"Dizem os poemas sagrados que o criador, depois de terminada a sua obra, parou e, com olhos extasiados, disse: "Que lindo..." Sou um ser deste mundo. Meu corpo precisa dos cheiros, das cores, dos gostos, dos sons, das carícias..."
Rubem Alves

Uma pergunta que assolou minha adolescência e me fez entrar em pelo menos umas três crises existenciais foi a seguinte: que raios eu vim fazer num lugar onde eu amo tantas coisas se um dia eu vou morrer e largar tudo ao esquecimento daqueles que só se importam com a própria vida? E a única resposta que me veio naqueles tempos foi a de que deve existir algo além disso tudo. Se é como aqui só vou saber quando for embora. O que me dá um pouco de medo. Medo de deixar tudo aqui. Porque eu preciso da música; do cheiro bom de terra molhada quando cai aquele toró de lavar a alma; de chocolate quente em dia de frio; de café-com-leite no sábado à tarde; das estatuetazinhas de buda nas prateleiras pra me trazerem sorte; de um céu estrelado com a lua bem alta no céu; de árvores em frente à minha janela; de um beijo estalado nos braços de alguém a quem eu amar muito; de vê-lo nas revistas e na TV e ficar feliz, sonhando que sou dele mesmo que platonicamente; das fotos de lugares mágicos como Macchu Picchu; das estórias da Atlântida; dos livros de esoterismo e chick-lit; da gostosura que é comprar uma caixa nova de lápis-de-cor; do cheirinho gostoso que livro novo tem; das noites de fim-de-semana na companhia de amigos, falando besteira, jogando e comendo lanche em fast-foods; de ver as obras do Da Vinci, Dalí e Warhol; do gosto bom que tem licor de Amarula, e dos discos do XTC. Ai, tempo, passa devagar, vai!