13 de dez. de 2012

Filosofando sobre Santos

Para os moradores dessa minha cidade estranha, porém com um certo charme, digno de uma mini São Paulo com direito a praia, sempre me intrigou o fato de que embora eu quisesse sair daqui, algo me impedia e fazia pensar, toda vez que tinha de ir pra capital, como eu gosto de morar aqui. Porque embora as coisas aconteçam na capital, aqui é um tanto quanto melhor. Só o fato de ter uma praia já me deixa menos estressada. Não que eu goste de torrar sob um sol de 40 graus, mas tenho uma teoria sobre as energias que a praia traz. Conforme a gente vai chegando mais próximo da praia, é tudo tão bonito, prédios que parecem aconchegantes, canais mais cuidados, um pouco mais de árvores. Aí, fazendo o caminho inverso e indo para o centro, parece que tudo fica mais feio e triste. Os prédios são esquisitos, muita coisa que embora não seja tão velha parece que já está construída desde o descobrimento da cidade, poucas árvores. Eu moro bem no meio termo disso, num lugar que nem os Correios se decidem se o nome do bairro é Boqueirão, Gonzaga ou Encruzilhada. E, sim, as ruas cruzam e tem bastante macumba onde antigamente a gente chamava de "linha do trem", que hoje aqui pelos quarteirões teve os trilhos aterrados e serve de abrigo para os moradores de rua.

O que me deixa meio chateada é que o que um dia foi uma paisagem com prédios de no máximo três andares, daqueles bem charmosos, e árvores por todas as partes da cidade, sem esquecer nenhum dos vários bairros daqui, hoje dá lugar a prédios muito altos, que duvido bastante que consigam abrigar tanta gente assim (embora as pessoas ainda achem que o tal pré-sal realmente vai trazer mais pessoas pra cá), e as árvores a cada dia que passa vão desaparecendo. Não me espantaria que num futuro próximo as imobiliárias se deparassem com um boom imobiliário e vissem a burrada que fizeram construindo prédio por tudo quanto é canto da cidade e quase ninguém querendo comprar. Mas pensando pelo lado bom, os preços poderiam ficar baixos e eu realizar o sonho de ter um apartamento com um quarto só meu (que hoje eu ainda divido com meu irmão mais novo, nesses meus 28 anos do primeiro tempo).

Essa minha cidade, que ao mesmo tempo me deixa com vontade de ir embora, e quando penso em ir, volta a vontade de ficar, apesar do trânsito, é boa de se viver. Não é à toa que temos tantas pessoas na melhor idade morando aqui. Temos coisas bonitas, como o Orquidário, o Aquário, o Horto. A praia não é muito limpa, mas nossos jardins da orla são os mais bonitos do país. E é tão gostoso dar uma volta pela orla, sentar num dos banquinhos, esperar o sol se pôr. Fiz isso muitas vezes. Tinha dias que levava um livro junto e ficava lendo até o sol ir embora. Também temos o deck do Emissário Submarino, onde um monte de gente vai pra andar de skate, bicicleta, patins, ou sentar e ficar vendo o mar. Também já fiz isso bastante. Chamava os amigos no final da tarde pra ir até lá, conversar e ficar olhando o mar. Sempre fico bem olhando a orla da cidade, com Guarujá do outro lado, enquanto o mar vai batendo contra as grades do deck. Acho que lá é o melhor lugar do mundo, embora eu não seja uma pessoa que tenha viajado muito. Mas essas coisas a gente sente, né? Pelo instinto a gente sabe que é bom e que vai ser difícil achar um lugar bonito assim numa cidade relativamente grande. Não falo de paraísos tropicais, esses com certeza devem ser lindos também, mas não sei se morarei em um, então só de Santos ter o meu lugar sagrado eu já fico contente.

Agora, só falta o sonho de um dia termos um metrô, o que acho bem difícil. Pra sair a ponte que liga Santos à Guarujá parece que demorou séculos e mesmo assim as obras só começam bem lá pra frente. Acredito que o mundo acabe e essa ponte ainda nem tenha sido começada. Mas se caso o metrô viesse a ser construído, melhorando o transporte público, eu poderia dizer que, apesar da hora do rush ser insuportável, do calor infernal e da poluição ser grande, é a melhor cidade do país.