Cheguei em casa me esbaforindo porque tinha corrido de lá do sebo, que ficava a umas cinco quadras de casa, querendo muito ouvir aquilo porque devia ser a coisa mais foda com a qual eu já tinha me deparado até então. E lá fui eu, botar o lado A do primeiro disco pra tocar. Fui esperando algo mega louco, com teclado 'fritando', reverb, distorção e o que mais viesse de bônus. Porém era pop. Pop. Poxa! E além de tudo era um pop esquisito, parecia música de macumba com rock, tinha umas batidas nada a ver. Passei aquele lado A inteiro xingando, e no final guardei o disco no meio da minha coleção, pra depois de um tempo o pobre coitado ser jogado no lixo. Disse que nunca mais ouviria eles.
Em junho de 2004 estava no auge do meu psicodelismo pessoal, baixando todo disco que conseguia encontrar como se não houvesse amanhã. Um dia me deparei com uma tal The Dukes of Stratosphear. Pelo nome, a banda parecia bem legal e resolvi ouvir. E naquela semana devo ter ouvido umas cinquenta mil vezes. Ouvi tanto que naquela mesma semana eu consegui memorizar todas as letras, cantava até de trás pra frente se me pedissem. Mas descobri que eles eram na verdade os caras do XTC tirando um sarro do baroque pop dos anos 60. Fiquei meio chateada porque XTC não tinha graça, como que eram os mesmos caras? Não podia ser.
De tanto ouvir os Dukes, um dia resolvi dar uma chance pro XTC. Comecei a pesquisar resenhas e um monte delas diziam que um dos discos chamado Skylarking era um dos melhores deles. Decidi ouvi-lo. E foi uma surpresa porque todas as músicas pareceram muito boas. Tinha que ter algo errado com aquele verão de 2003 e o Oranges & Lemons. Curti tanto que peguei a discografia e fui devorando todos os discos (isso é possível?). Aí, chegou a hora do Oranges de novo. Mais uma vez me deparava com aquele disco de capa colorida e som de macumba pra roqueiro alternativo. Mas ouvi. E gostei. Pensei na teoria de que meus ouvidos não estavam preparados pra esse tipo de pop esquisito, que tem batida estranha e letra difícil de entender se você ainda tem um inglês intermediário. Eu era rebelde. Só que ao contrário.
Passou o tempo, chegou 2010 e 2011 e fui comprando tudo que conseguia achar na internet até chegar ao ponto de comprar edições diferentes de um mesmo disco só porque um tinha uma bag que era de uma cor e o outro de outra cor. Participei de leilões de lotes de LP no eBay. Foi o auge da minha vida como colecionadora de qualquer coisa. Tatuei o logo da capa do Oranges nas costas, já consegui entrar em contato com o Andy Partridge, já stalkeei o filho dele (que acabou que me deu bola por uns tempos), e coloquei como meta de vida fazer a Bacchus (minha banda) famosa e comprar os direitos que a Virgin Records tem sobre todo conteúdo do XTC e dar de presente pros caras. Acho que vim ao mundo pra isso. E ai de quem me contrariar.